domingo, 7 de abril de 2013

A Última


Por muito tempo eu pensei que aqueles onze meses tinham sido algo sem sentido. Meu cérebro tentou, por muito tempo, enganar meu coração dizendo que aquilo não foi nada, que não houve sentimento e que eu iria ficar bem. Ele se esforçou, mas no começo foi difícil. Todos os lugares em que eu passava e toda vez que fazia algo que era comum de fazermos juntos me traziam aquela sensação ruim, mas aos poucos eu fui me acostumando.
Na verdade, todo mundo se acostuma em certo momento da vida.
Demorou muito e meu cérebro continuava ajudando na parte de “não, você não a amou”.
Verdade seja dita, o final foi um dos piores momentos que eu tinha passado até ali. Não houve sorrisos, somente lágrimas e a incerteza de que haveria ao menos uma amizade.
Pois bem, 3 anos passaram e estou aqui, remoendo algumas coisas, mas não da mesma forma. Em algum momento da vida temos que nos levantar e superar de vez. Não que não tivesse superado antes, na verdade, demorou por volta de 1 ano e meio para que tudo ficasse bem, mas algo faltava.
Aquela caixa com todas as recordações dela ainda era mantida em cima do guarda roupa. Depois do fim eu não tive vontade alguma de abri-la. Seria um desperdício. Só iria desacreditar mais ainda no sentimento do amor, pois para ela havia sido tão fácil encontrar outra pessoa que me fez pensar que eu era o errado na história, mesmo não sendo.
Depois de muito pensar decidi me desfazer da caixa, mas me impus uma condição: ler e recordar tudo por uma última vez. Claro, o que escrevemos permanece para sempre, mas a nossa memória não tem o mesmo poder. Seria um momento para recordar e guardar o máximo que pudesse.
A cada carta lida o sentimento limitado pelo cérebro aparecia cada vez mais. Sim, percebi que o que eu senti naquele tempo todo foi amor. Assim como o dela, foi verdadeiro. Aquele amor adolescente em que achávamos que poderíamos quebrar barreiras e vivê-lo para sempre.
Ledo engano. Feliz ou infelizmente, tudo tem um fim, por mais que juramos que fosse para sempre. O pra sempre tem a duração do “nosso” para sempre, ou seja, enquanto estivemos juntos.
Fui lendo uma por uma e meu cérebro foi cedendo. Quando terminava, tentava absorver o máximo e guardar em um lugar especial da minha memória. Ao final, rasguei todas e joguei fora toda e qualquer coisa relacionada a ela.
Somente uma coisa ficou, um CD com as nossas fotos. Por que guardei? Em todo esse tempo, desde o momento que o ganhei, não o tinha visto. E ainda assim só o guardei.
E depois de todo esse tempo ela volta falando que nunca esqueceu o que sentiu, que ainda me ama, que hoje percebe que quem errou foi ela e que perdeu o que era mais valioso em sua vida, mas eu não consigo mais sentir o mesmo, na verdade, não me permito. Prefiro que as coisas sigam da maneira que estão. Vamos nos vendo, conversando, mas eu não consigo mais que isso.
Peço desculpas, mas não sou como os outros caras. Você bem sabe.
Então dei o último passo: coloquei o CD para rodar. Nossas duas músicas preferidas tocando ao fundo enquanto fotos dos nossos momentos mais felizes invadiam a tela. As lágrimas inundaram os olhos, mas não escorreram pelo rosto.
Foi aí que percebi de verdade: foi amor. Amei e fui amado. Mas estava na hora de apagar dois dos pontos das reticências e manter só o ponto final.